Diário de Pernambuco
carne da baleia jubarte morta depois de encalhar na praia de
Coutos, na última sexta-feira (30), em Salvador, virou comida na mesa
durante o final de semana dos moradores do subúrbio ferroviário, na
capital baiana.
Vídeos começaram a circular,
por meio do aplicativo WhatsApp, nos quais um grupo de pessoas aparece
coletando os restos mortais do animal de cerca de 15 metros, com quase
40 toneladas.
Numa das imagens, um homem corta, com
dificuldade, a espessa camada de gordura do mamífero com uma faca do
tipo peixeira. Ao lado dele, uma mulher pede a faca emprestada para
"tirar um pedacinho de gordura", mas o homem nega.
"Essa
faca não é minha, não. É do coroa ali", responde o homem, enquanto se
esforça para cortar a pele do animal. A mulher, então, insiste junto ao
provável proprietário da faca. "Deixa ele tirar um pedacinho pra mim de
gordura?", pergunta.
Ao fundo, ouvem-se adolescentes
atraídos pela possibilidade de abocanhar um naco da carne do mamífero.
"Ô Bingo, tira um pedacinho pra mim, pra eu pescar", pede um deles. "Tô
querendo tirar um pedaço pra mim, não tô conseguindo", responde o homem
que atende por Bingo.
Já em outro vídeo, um homem, que
não aparece na imagem, mostra a carne da baleia fatiada em bifes sobre
uma assadeira de metal. "A carne da baleia. Vai ter churrasco agora. Se
'aprochega'", diz. "Parece carne de boi mesmo. 'Ó paí', 'véi', que
viagem".
Em outra gravação, os bifes da carne já
aparecem sobre a grelha de uma churrasqueira. "A carne de baleia aí! Tá
ligado?", exibe. "Olha a ostentação", comenta uma voz feminina. "A carne
de baleia é assim, é? Eu pensava que era peixe", emenda.
A
bióloga do Projeto Baleia Jubarte, Luena Fernandes, alerta que quem
consome carne de baleia está sujeito ao contágio por doenças comuns aos
mamíferos, além de cometer infração ambiental com base na Lei 7.643/87,
que proíbe pesca, consumo e comercialização de cetáceos em águas
brasileiras.
"Não é recomendável, pois, quando o
animal encalha é sinal de que já estava doente. Logo após a morte,
inicia-se o estado de decomposição", explica. "Pode-se contrair doenças
que afetem o sistema respiratório ou intoxicação alimentar", prossegue.
Dias
após a morte do animal, o chefe da Vigilância Sanitária e Zoonoses do
Subúrbio Ferroviário, Erivaldo Pereira Queiroz, afirma que, até a tarde
desta terça-feira (3), o órgão ainda não registrou casos de intoxicação
alimentar por ingestão da carne na região.
No entanto,
na capital baiana, houve apenas um relato de uma repórter de jornal
local que passou mal após trabalhar a metros de distância do animal
morto. A profissional apresentou inchaços e vermelhidão nos olhos e
pressão baixa.
Queiroz diz ter conhecimento de que a
população coletou a carne da baleia, como costuma fazer quando vacas são
atropeladas na linha férrea próxima ao local do encalhe. "É uma região
muito pobre, então as pessoas aproveitam qualquer chance."
Segundo
ele, os riscos de ingestão desse tipo de carne são desconhecidos,
motivos pelos quais considera grave o consumo, justamente devido à falta
de observância dos procedimentos fitossanitários comuns à carne
comercial.
"É uma carne que não foi inspecionada, com o
agravante de que o animal já trazia uma flora bacteriana desde sua
origem", afirma. "Ao chegar aqui, adquiriu outra flora, onde a água do
mar da região não é limpa", acrescenta.
Ainda de
acordo com Queiroz, os efeitos do consumo desse tipo de carne podem
levar a uma infecção ou a um processo alérgico, uma vez que os
organismos das pessoas não estão habituados a consumir esse tipo de
carne.
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