RÔMULO ALCOFORADO/FOLHAPE
Fosse há 10 anos, um jogo entre Carlinhos Bala e Rosembrick teria a
capacidade de envolver toda a cidade. Era o auge dos dois talentosos
jogadores. O melhor momento de suas carreiras. Mas a verdade é que,
distante dos holofotes há muito tempo, Bala é um rei sem súditos. E
Rose, um mago que não enfeitiça mais. A partida deste domingo,
América/PE x Ypiranga, nos Aflitos, mostrou isso com clareza: nível
técnico sofrível, importância do confronto muito próxima de zero,
arquibancadas vazias. A vitória ficou com o time do baixinho. Um a zero.
Gol de quem? Isso mesmo: do monarca Carlinhos Bala, que tirou onda com o
parceiro: “É meu freguês”.
O resultado, porém, importa menos. Porque quando Rosembrick e Bala se
reunem, a resenha é certa. Os homens não conservaram a forma, mas
mantêm uma fração do prestígio dos bons tempos. Talvez seja o fascínio
pelo charme decadente. Vai saber. Hordas de jornalistas acompanharam o
jogo (Ok, nem tantos assim. Mas tinha uma boa dúzia de repórteres com
cara-de-ontem para cobrir um duelo que, de outro modo, só contaria com
dois ou três). As arquibancadas estavam abarrotadas. (É, também não.
Menos de mil pessoas. Mas faziam barulho).
Antes do jogo, Rosembrick ressaltou a amizade. Carlinhos Bala só
mencionou isso de passagem. Dentro de campo, frisou, não tem essa: “Ele
defende a bolacha dele, eu defendo a minha”.
No começo, o meia do Ypiranga esteve melhor. Durante os quinze
minutos iniciais, bateu uma falta perigosa, distribuiu passes e deu
chapéu. Mas o fôlego não durou muito. Bala, rechonchudo toda vida, nada
produziu. A torcida não o perdoou: “Parado em campo”, dizia um. “Só joga
com o nome”, repetia outro. A única chance do autointitulado Rei de
Pernambuco foi uma falta que parou no goleiro adversário.
Na volta do intervalo, contudo, Bala cresceu. Não se sabe se motivado
pelas críticas ou por ter poupado o gás ao longo do primeiro tempo, ele
até lembrou uma fagulha do atleta que foi. Decidiu a parada aos 28
minutos do segundo tempo. Bola na marca de cal, camisa 11 na cobrança. E
perdeu. Mas no rebote não perdoou. A comemoração foi com a costumeira
marra: “Eu sou f…”. Aplaudido pela torcida, beijou o escudo e decretou:
“O Rei de Pernambuco voltou”.
SAIBA MAIS
Rosembrick e Carlinhos Bala já jogaram várias vezes juntos. No Santa
Cruz e no Sport, por exemplo. Mas também não é a primeira vez que se
encontram em lados opostos. O retrospecto é totalmente favorável ao
camisa 11: com a partida de ontem, são cinco jogos. Bala ganhou três e
empatou duas. Rose jamais venceu o parceiro.