Há quase 40 anos vendendo sorvete nos Aflitos, Vevete agora quer ir
para a Arena Pernambuco. Fotos: Thiago Wagner/Blog do Torcedor
Eles não calçam chuteiras, não jogam e muito menos fazem gols. No
entanto, constituem parte importante dos Aflitos e são amados por
praticamente todos os torcedores. Lamentam
o último jogo do Náutico no estádio neste próximo domingo,
mas preferem deixar as tristezas de lado. Querem aproveitar até o
último segundo do local que se tornou quase uma casa. Vevete, Barulho,
Americano, Araponga e Kuki dão vida aos Aflitos. Juntos, os cinco são
parte do passado e do presente do clube de Rosa e Sila. E juntos querem
seguir no futuro da equipe. O
Blog do Torcedor entrevistou o quinteto durante essa semana. As histórias de todos seguem abaixo:
Americano, o ponto de parada de quase todo alvirrubro
Há 15 anos no Náutico, Normar Bortoleti já nem recorda direito qual foi
o primeiro lanche que serviu nos Aflitos. Conhecido como Americano,
apelido que ganhou de um garçom devido ao nome diferente, Normar é dono
de um ponto que funciona quase como parada obrigatória para todo
alvirrubro em dia de jogos do Náutico. Sua lanchonete fica na sede
social do Timbu e fica cheia quando o Alvirrubro atua seja por qual
campeonato for. Os lanches, quase sempre sanduíches, são diversos. E
para quem pensa que o movimento é apenas antes das partidas, Americano
revela o contrário. "Tem torcedor que fica aqui até meia-noite bem
depois que acaba o jogo", diz ele apontando para as televisões que fazem
o ambiente do seu ponto.
Americano não vai para a Arena Pernambuco, por enquanto, garante.
Prefere ficar na casa que o acolheu por muito tempo. E já planeja
mudanças no comércio para continuar atraindo o torcedor. "Temos que nos
adaptar. Para tudo existe alternativas. É verdade que 90% do nosso
movimento é futebol, mas vamos ficar. Tem até cliente que já disse que
vai assistir a alguns jogos com a gente", afirma.
A diminuição de rendimento da lanchonete, porém, talvez seja o que
Americano menos lamenta no momento. Ele, que não gosta de falar da
despedida, diz que vai sentir falta mesmo é do torcedor e das vitórias
do Timbu ocorrendo ao seu lado. "Tenho lembranças muito boas aqui. O
título de 2001 e o ano passado quando nos classificamos para a
Sul-Americana. Vou sentir saudades mesmo é do torcedor. Tenho muitos
amigos".
O Vevete que vem de pai para filho
Quem também revela a tristeza pela despedida dos Aflitos é Samuel
Santos, o vendedor de sorvetes conhecido como Vevete por todos. Samuel,
que tem 56 anos, está há quase 40 no estádio em um negócio que herdou do
pai dele. "A ideia do sorvete foi do meu pai. Sempre fomos alvirrubros.
Fico meio triste com o fim dos jogos aqui, mas tenho esperança de
vender o Vevete na arena", diz ele sem esquecer do nome que também foi
criação do pai.
O vendedor de laranjas que quer seguir nos Aflitos
Ao contrário de Vevete, Felisberto da Silva Nunes, 59 anos, não sonha
em ir para a Arena Pernambuco. O Barulho, como é conhecido no reduto
alvirrubro, prefere continuar vendendo suas laranjas nos Aflitos e no
centro de treinamento Wilson Campos, na Guabiraba. "Não quero ir para a
arena não. Vou ficar aqui mesmo", afirma.
Laranjas vão continuar nos Aflitos
Sobre a despedida dos Aflitos, Barulho, que está há quase 40 anos no
estádio, não pode ter outros sentimento que não seja a tristeza. "Fiz
muitos amigos aqui e por isso vou continuar vindo. É minha segunda
casa".
O "dono" das chaves dos vestiários do Náutico
Ele é quase sinônimo de Náutico. Severino Matias de Carvalho, o
Araponga, é o roupeiro do Timbu na teoria, porque na prática ele é mais
do que isso. Araponga é praticamente o "dono" dos vestiários
alvirrubros. "Sempre fui Náutico. Aqui é minha casa. Vivi mais tempo
aqui do que onde moro atualmente. São 43 anos de Aflitos", diz.
Araponga está nos Aflitos faz mais de 40 anos
Na memória de Araponga a melhor lembrança é o hexacampeonato estadual
(63-68) obviamente. No entanto, o seu maior ídolo está na história
recente do Timbu. Trata-se do ex-atacante Kuki. "Ele nunca jogou um
uniforme no chão. Sempre dobrou e me entregou na mão. O único defeito
dele é que não gostava de perder e ficava irritado em certos momentos.
Mas Kuki sempre foi uma boa pessoa", conta.