Webradiotop1FM

29 de março de 2011

O primeiro Santa Cruz x São Paulo


Por Roberto Vieira*
Nesta quarta-feira tem festa nas Repúblicas Independentes do Arruda, Recife recebendo um dos maiores craques surgidos em nosso estado: Rivaldo. O encontro entre tricolores pernambucanos e paulistas possui uma história de setenta e três anos, é do tempo da Constituição Polaca de Getúlio Vargas, do tempo da chegada do interventor Agamenon Magalhães ao poder, do tempo em que as grandes partidas eram disputadas no Campo da Jaqueira.
O São Paulo chegou a Recife em 1937 a bordo do navio Ararangua, ficando hospedado no Hotel Avenida. O time vinha sob o comando do jovem técnico Vicente Feola, futuro campeão mundial em 1958, auxiliado por Malheiros Cerroni. Na equipe brilhavam o arqueiro King e os atacantes Ministrinho, Milani e Junqueirinha. Depois de atribulada passagem por Salvador, a estadia em solo pernambucano revelou o talento da jovem equipe paulista, eliminada na primeira fase do campeonato paulista daquele ano.
A grave crise financeira pela qual o clube atravessava, mercê da do fechamento do antigo São Paulo da Floresta em maio de 1935 e posterior criação do São Paulo Futebol Clube em dezembro de 1935, era enfrentada com bravura. O São Paulo que jogava em Pernambuco pelas mãos de Feola, era o mesmo time que lograria o vice-campeonato estadual em 1938.
Depois de perder a primeira partida diante do Náutico por 1x0, o tricolor paulista tomou as rédeas da situação e mostrou ao que veio. No dia 5 de dezembro, arrasou o Tramways de Furlan, campeão invicto do estado. Três dias depois, não tomou conhecimento do Sport Club do Recife de Djalma e Pitota, aplicando inapelável 4x1. A plateia ia ao delírio com a exibição do conjunto paulistano, mas confiava que na despedida contra o Santa Cruz a história seria diferente. Afinal de contas, o Santa Cruz já era o clube mais querido do povo, possuindo ataque fenomenal, capitaneado por Tará, irmão do garoto Orlando Pingo de Ouro.
O Campo da Jaqueira estava lotado. 12 de dezembro de 1937. O São Paulo entra em campo carregando a bandeira brasileira e saúda a torcida. King; Aníbal e Horácio; Piolin, Acosta e Felipelli; Ministrinho, Carioca, Milani, Piche e Junqueirinha. O Santa Cruz chega logo em seguida, delirantemente aplaudido. Diógenes; Sherlock e Sidinho II; Jayme, Niversino e Adhemar; Zé Pequeno, Lauro, Tará, Sidinho e Siduca.

Tará bate o centro. Sherlock cola em Junqueirinha. Felipelli faz falta em Zé Pequeno. Sidinho II falha e Carioca arremata violentamente contra o poste horizontal de Diógenes. Junqueirinha cruza, Ministrinho sobe de cabeça e acerta novamente o travessão. Aos 22 minutos, Junqueirinha para Ministrinho para Milani: São Paulo 1x0.
Feola acorda no banco e comemora com os jogadores. Jayme vai perdendo a cabeça com o juiz Juan Chiavoni. O Santa pressiona e Horácio cobra escanteio, a bola cabeceada por Sidinho beija a trave de King. Sherlock, futuro homem de preto da FIFA, reclama acintosamente do árbitro. Acosta cai. O jogo fica parado. Intervalo.
Na volta do segundo tempo, o Santa Cruz parece que vai mudar o rumo dos acontecimentos. Jayme lança Zé Pequeno que desfere petardo indefensável: 1x1. Infelizmente, para os corais, Sherlock se machuca e Martins assume a zaga. Foi o suficiente para que o talento do artilheiro Milani decidisse a sorte do encontro. Primeiro, aos 29 minutos, aproveitando rebote de Adhemar. Depois, aos 31 minutos, colhendo o arqueiro Diógenes de surpresa com um chute sem ângulo. Milani que nasceu milionário, cresceu capitão do São Paulo e consagrou-se goleador no Corinthians.
O São Paulo se despede de Pernambuco com um 3x1 inapelável. O Santa Cruz guarda na memória a saída de Sherlock no segundo tempo. 12 de dezembro de 1937, foi o dia em que Aníbal e Horácio conseguiram controlar Tará. Como eram tempos de romantismo no futebol, a partida se encerra com abraços e apertos de mão. De noite tem festa para os visitantes.
Festa que se repete nesta quarta-feira, 30 de março de 2011. Feola, Ministrinho, Tará, Sidinho, Siduca e King se foram. Fazem parte do coração de quem ama o futebol. Mas quarta-feira será dia do craque que conseguiu vestir o manto de Humberto de Azevedo Viana e Mário Milani.
Quarta-feira é dia de Rivaldo Vitor Borba Ferreira.

Nenhum comentário:

Postar um comentário