Localizada na Zona da Mata e com pouco mais de 8 mil habitantes, Camutanga deixou de ser apenas um município de Pernambuco para, há quase dois anos, ser também conhecido no meio do futebol, principalmente regional, e especialmente para os torcedores do Náutico - hoje, com muito carinho. Afinal, é assim que o zagueiro alvirrubro, Cleidson de Andrade Souza Silva, é chamado. E a denominação, ainda que imprevista, faz todo sentido: ambos são indissociáveis. O jogador é praticamente uma bandeira da cidade.
“Toda folga eu desço para a minha cidade. Minha esposa (Camilla) me
cobra muito disso, que eu passo muito tempo longe e quando chego lá
tenho que estar com todo mundo, conversando. Ela diz: ‘Vamos para a
Praia’. Mas, não. Eu gosto de estar na minha cidade”, conta, sobre a
relação que possui. “Muito boa pelas pessoas que convivo. Todo mundo se
conhece. Gosto muito de estar lá por conta disso”.
O
zagueiro considera que, mesmo tendo carregado consigo o nome da cidade
já no seu primeiro clube profissional, o Auto Esporte-PB, tornou-se
conhecido apenas no Náutico. E o caminho até lá, até Cleidson virar,
efetivamente, Camutanga, foi difícil. De superação
A
relação de carinho é mútua. Virou tradição, por exemplo, a cidade
saudar de forma expressiva as conquistas do zagueiro com carreatas - foi
assim no título estadual de 2018 e no acesso à Série B em 2019, sendo
pego de surpresa na primeira. “A do acesso eu não sabia, mas a do título
sim, fizeram postagem e tudo que ia ter. Mas essa (última) foi em cima
da hora”, conta. “Rapaz, vai dar gente em uma segunda-feira?”, pensou o
jogador após superar o Paysandu. “Mas o pessoal foi, minha família, a
gente tirou foto todo mundo junto lá”, falou, orgulhoso.
É
preciso, aliás, apenas um sinal do jogador para a celebração. “Para mim
todo todo mundo é família naquela cidade. Então são meus amigos,
família que organizam. Quando entram em contato comigo eu digo que podem
fazer. É bom comemorar”.
Tanto é que, na final
entre Náutico e Central no ano passado, todos, sem exceção, uniram-se
em torcida para o jogador - algo que, sugere, vai perdurar enquanto
vestir vermelho e branco. “Sempre teve isso de rivalidade, mas lá não
tem. É um negócio muito bom para mim”, diz. “A gente não é Sport e
Santa. A gente agora é Camutanga”, explica como falam os moradores do
município.
“A cidade é Camutanga. Por causa de
mim. Hoje a cidade é Náutico. Você vê pessoas que torciam para Santa e
Sport vestindo a camisa do Náutico. E isso é gratificante. Só tenho a
agradecer a população da minha cidade o carinho que eles têm por mim. É
coisa que não tem explicação”. A moral do jogador é tamanha que até
palestra tem dado. “Até ano passado os professores me convidaram para eu
dar uma palestra na escola lá”, relembra.
Após a conquista do acesso, rumou para o Pesqueira e, a partir de
então rodou por Santa Rita-AL (duas vezes) e CSA até chegar ao Bangu, em
2017. Na equipe carioca, disputou a Série D sem sucesso e caiu na
primeira fase. No entanto, teve boa análise, especialmente do técnico,
por quem nutre um carinho especial: Roberto Fernandes. “A gente não foi
bem, mas ele gostou muito do meu trabalho. Foi o meu primeiro contato
com ele. E então ele me trouxe para o Náutico”.
Com
o técnico, aliás, Camutanga protagonizou um momento inusitado. Em um
jogo contra o Atlético-AC, pela Série C, vazou pelo microfone de
transmissão o treinador chamando-o de “bicho burro” mais de uma vez. Na
época, o áudio viralizou e o jogador foi alvo de críticas e até
ridicularizado pela torcida. Episódio minimizado. “Roberto é muito
explosivo. Ele é muito assim. No Bangu ele dizia coisas piores com a
gente”, disse. “Um cara que cobra bastante. Então isso é bom também, mas
não tenho mágoa nenhuma”.
Junto com Roberto,
Camutanga conquistou o primeiro dos dois objetivos estipulados pelo
clube: o título pernambucano do ano passado, tirando o Náutico de uma
fila de 14 anos. Este ano, o segundo passo para cair de vez no gosto da
torcida - e escrever seu nome na história do clube - com o acesso à
Série B. Tendo um papel importante.
No jogo do
acesso, ante o Paysandu, salvou uma bola em cima da linha - a equipe
paraense abriria 2 a 0. Já no jogo de ida da final, fez um dos gols na
vitória por 3 a 1 sobre o Sampaio Corrêa. Feitos individuais que,
somados aos coletivos e aliados mais ainda à evolução técnica que teve, o
colocam ainda mais em evidência junto aos alvirrubros. Outrora
ridicularizado, Camutanga é um dos mais queridos do elenco para os
torcedores e uma das prioridades de renovação para 2020.
“Eu
tenho que agradecer demais ao Náutico. Se for para ficar, eu quero
ficar. Sei que tenho muita coisa para conquistar aqui ainda. Esse clube
tem que estar brigando por coisas grandes”, afirmou. Mas se ainda há
indefinição quanto ao seu futuro, o jogador tem certeza de uma coisa. Em
caso de título da Série C já sabe para onde ir comemorar. “Aí eu tenho
que pedir uma folga ao clube. É tradição na minha cidade, eu tenho que
vir”, diz.
Nenhum comentário:
Postar um comentário