Independente do clube em campo, todo torcedor tem registrado na
mente um momento marcante do seu time. Seja na vitória ou na derrota. As
pupilas dilatam e os olhos enviam ao cérebro uma espécie de arquivo. É
com um processo parecido que o fotógrafo Ricardo Fernandes, que
trabalhou no Diario entre os anos de 2000 e 2018,
convive profissionalmente. Dessa forma, ele conseguiu congelar, em sua
carreira, cenas das mais diferentes competições de futebol, a nível
estadual, regional, nacional e mundial. E este mês, ele conquistou um
título especial: o de mais de mil jogos registrados.
Ricardo
começou a carreira como fotógrafo em 1995. No ano seguinte, já recebia
uma missão que o marcaria para sempre: fotografar o Rei Pelé, na época
Ministro de Esportes. “No primeiro dia eu já fui fotografar o Pelé. Aí
eu vi como era o tumulto quando ele chegou, todo mundo cercando e uma
dificuldade grande para conseguir se aproximar. Foi uma experiência que
não esqueci. Eu senti como era o fotojornalismo e a partir daí descobri o
que queria seguir”, relembrou.
A sua estreia
como fotógrafo num jogo de futebol, aconteceu em fevereiro de 2000, em
um clássico entre Santa Cruz e Náutico, no Arruda. “Eu ficava nervoso
nos primeiros jogos, quando eu ainda não dominava a fotografia
esportiva. Isso leva um tempo. No primeiro jogo o material foi horrível.
Era com filme, a gente tinha que esperar revelar para ver, e tinha toda
aquela tensão na mesa de luz, levava uma lupa para ver se as fotos
saiam com foco.”
Apesar das câmeras mais
modernas permitirem o foco automático, Ricardo até hoje prefere o uso do
foco manual, o que, de certa forma, o diferencia dos demais colegas de
profissão. A característica é uma forma que ele encontra de participar
ainda mais daquele momento. Mas, apesar da entrega, um bom resultado nem
sempre depende somente dos ajustes da máquina. Às vezes, a paciência
tem que entrar em campo junto.
“Do mesmo jeito
que jogador oscila, o fotógrafo esportivo também oscila. Às vezes o
lance sai sem a bola, você está num ângulo que o jogador e o juiz entra
na frente, ou jogador fora do lance fica mais próximo e encobre”,
relata.
E desde o primeiro jogo, Ricardo anota, em cadernos, cada um em que
trabalhou. Entre partidas profissionais e amadoras, passando pelo
Campeonato Pernambucano da primeira e segunda divisão, Campeonato
Brasileiros das Série A, B, C e D, Copa do Brasil, Libertadores, Copa
América, Copa das Confederações e Copa do Mundo.
E
foi graças ao seu caderno de anotações, que descobriu que o milésimo
jogo estava se aproximando. “Quando eu tinha uma foto publicada no
jornal, principalmente em destaque na primeira página, era uma alegria.
Eu guardo as principais fotos até hoje. Tenho uma pilha de quase 20 anos
de trabalho”.
Entre mais de mil jogos, Ricardo
guarda algumas coberturas com carinho especial, como a primeira vez que
acompanhou um jogo da Seleção Brasileira, nas eliminatórias da Copa de
2010, no Arruda, contra o Paraguai, que marcou o seu jogo 400, e a final
da Copa do Mundo de 2014, entre Argentina e Alemanha, no Maracanã.
“A
final foi bem concorrida, a quantidade de fotógrafos era muito grande. E
quando eu cheguei no Rio de Janeiro, vi que o meu pedido foi reprovado.
E eu imediatamente fiz o pedido para a tribuna, e poucos minutos depois
fui aprovado. Foi um alívio garantir um lugar lá, já era grande coisa.
Eu consegui uma lente de longo alcance e um duplicador, aí consegui
trabalhar bem. Mas, me dei mal na hora da entrega da taça, porque os
jogadores da Alemanha estenderam a taça de costas para mim”, recordou,
sem mágoas.
Entre os seus jogos mais marcantes
também estão a vitória do Brasil sobre a Colômbia por 2 a 1, pelas
quartas de final da Copa de 2014, em Fortaleza. E a conquista do inédito
ouro olímpico, no Maracanã, superando a Alemanha, nos pênaltis.
“Na
lista de jogos decisivos, também tem a campanha do Sport campeão da
Copa do Brasil 2008. Só que, na final, eu tava de férias. Fiz das
oitavas de final até o primeiro jogo das semifinais”, relembrou.
Com
todo o material que construiu até hoje, Ricardo ganhou algumas
premiações. Ele já teve uma foto do campeonato sub-20 inserida na
programação da Bienal espanhola, e também ganhou premiação em segundo
lugar na Associação dos Repórteres Fotográficos e Cinematográficos da
Imprensa de Pernambuco com uma foto de um lance de bicicleta do
ex-atacante Thiago Tubarão, então no Náutico, em 2001.
Atualmente
com 44 anos, Ricardo Fernandes é dono de uma agência fotográfica e se
enxerga com a experiência suficiente para não parar tão cedo, buscando
assim, eternizar novas histórias. Para ele, o grande segredo que
possibilitou a construção e a continuação da sua caminhada foi a
perseverança . “Principalmente porque hoje o mercado tá bem difícil na
área de fotojornalismo. Tem que perseverar muito, ralar muito para se
manter”, ensinou.
Números marcantes
Jogo 01 - Santa Cruz 1 x 1 Náutico (28/02/00) - Arruda
Jogo 100 - Santa Cruz 1 x 0 Fluminense/BA (24/03/02) - Arruda
Jogo 200 - Sport 3 x 1 Petrolina (16/01/05) - Ilha do Retiro
Jogo 300 - Náutico 2 x 0 Ituano/SP (18/11/06) - Aflitos (acesso à Série A)
Jogo 400 - Brasil 2 x 1 Paraguai (10/06/09) - Arruda
Jogo 500 - Santa Cruz 0 x 0 Treze/PB (16/10/11) - Arruda (acesso à Série C)
Jogo 600 - Náutico 0 x 2 Goiás (27/10/13) - Arena de Pernambuco
Jogo 700 - Náutico 0 x 2 Sport (22/03/15) - Arena de Pernambuco
Jogo 800 - Náutico 4 x 0 Uniclinic/CE (24/01/17) - Arena de Pernambuco
Jogo 900 - Náutico 3 x 2 Remo/PA (09/06/18) - Arena de Pernambuco
Jogo 1000 - Brasil (sub-23) 2 x 3 Japão (sub-23) - (14/10/19) - Arena de Pernambuco
Nenhum comentário:
Postar um comentário