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5 de setembro de 2012

Marlon, o endiabrado







Arlindo Marinho/DP/D.A Press
Marlon atuou no time coral por dois anos e foi destaque no Pernambucano de 1986
"Não adianta nenhum zagueiro querer me amedrontar. Só me param se me quebrarem, porque quanto mais batem, mais eu vou pra cima. Quero uma providência dos apitadores para que os torcedores vejam futebol e eu não seja inutilizado por um zagueiro qualquer." As palavras foram proferidas pelo atacante Marlon ao Diario de Pernambuco, em 1986. Dono de uma habilidade rara, seu prazer dentro de campo era fintar. Cortar para um lado. Cortar para o outro. E, de drible em drible, infernizar a defesa adversária.

Também chutava com as duas pernas. Sem medo de receber uma pancada, ele ficou conhecido como o Endiabrado. Entre lances de efeito e gols, o ex-atacante marcou a sua passagem pelo Mais Querido. Foram menos de dois anos no clube. Mas o tempo foi suficiente para ele se apaixonar por Pernambuco e fincar raízes no estado e na memória do torcerdor coral.

Chegada ao Santa Cruz
A chegada de Marlon ao Mundão do Arruda se deu por meio do treinador Nécio Guedes. Com passagem pelo futebol do Rio Grande do Sul, o comandante coral indicou o atleta. “Eu era do Guarani e estava emprestado ao Esportivo. Fiz um bom Campeonato Gaúcho e acabei indo pra o Santa Cruz graças a Nécio Guedes”, lembra.






Francisco Silva/DP/D.A Press
Marlon era caçado pelos adversários
Logo na estreia, Marlon tinha um clássico pela frente. O adversário era o Náutico, em partida válida pelo Campeonato Brasileiro. Ele começou o jogo no banco de reservas e viu o time em situação complicada mesmo após entrar em campo. A partida acabou em 3 a 0. O então ponta direita, porém, começou a se destacar. Nascia ali, o Endiabrado - apesar de Marlon não ser muito adepto do apelido. “Entrei bem. Tivemos muitas chances de gol. O pessoal me elogiou bastante. Foi ali que comecei a pegar confiança”, conta. "Me chamavam assim. Mas eu sou um homem de Deus. Prefiro ficar como Marlon", acrescenta.
Nesse Brasileiro, o Santa realizou desastrosa campanha, ocupando a penúltima posição entre os 44 clubes. Apesar disso, Marlon fez o seu papel. Foi o artilheiro do Tricolor com oito gols em 16 partidas disputadas.

Pesadelo do Sport
A passagem de Marlon pelo Santa Cruz também ficou marcada pelas grandes atuações em clássicos. Em especial, contra o Sport. Um exemplo foi o Clássico das Multidões de 1985, pelo final do segundo do Estadual. A vitória de 2 a 1 saiu na prorrogação. Ele marcou um gol no tempo normal e outro no tempo extra.

“Esse jogo foi muito importante. O time do Sport era muito bom. Jogar nar Ilha não era fácil. Estava com o tornozelo muito inchado. Fiz testes e o médico vetou. Chegou Zé Neves (ex-presidente) e disse que eu tinha que ir pra o jogo. Estávamos perdendo de 1 a 0 e estava com medo de jogar. Mas Deus foi muito bom comigo”, recorda.
Jogo Pró-Marlon
Ambientado ao Arruda e querido pela torcida, Marlon estava com o contrato de empréstimo perto do final. Teria que retornar ao Guarani. A diretoria do Santa Cruz, no entanto, fez um esforço para manter o atleta no clube. Marcou um amistoso com o CRB. A partida acabou em 3 a 3. O atleta teve atuação discreta. Porém, o mais importante estava nas arquibancadas. A presença da torcida ajudou a garantir a renovação de contrato. “Teve sorteio de carro e eletrodoméstico. Nunca tinha visto aquilo. É por isso que eu digo que sou mais bem tratado aqui do que na minha terra natal Marília (interior de São Paulo).”
Único título no Tricolor
Em 1986, o Santa Cruz conseguiu um histórico título estadual na Ilha do Retiro. Foi a decisão em que a bandeira coral acabou fincada no campo pelo ex-presidente José Neves. Na partida, o goleiro Birigui foi um dos grandes destaques. Mas, para muitos, o craque do time na competição foi Marlon. Artilheiro do Mais Querido da competição com dez gols, ele ficou atrás apenas de Luís Carlos, ídolo do Sport.





Edvaldo Rodrigues/DP/D.A Press
No Arruda, Marlon veste camisa do Brasil
Apesar disso, foi discreto na decisão e ainda jogou os últimos minutos machucado. “Fui considerado o craque do campeonato por parte da imprensa. Mas Birigui se destacou muito naquela final. A equipe era muito unida. Os jogadores jogavam pelo treinador. Era uma família. Os diretores estavam sempre com a gente. Era todo mundo se ajudando”, recorda.

Convocação para a Seleção Brasileira
Em 1986, a boa fase vivida por Marlon lhe rendeu um dos momentos mais mágicos de sua carreira. Ele foi convocado para defender a Seleção Brasileira no Campeonato Sul-Americano, disputado no Chile. “Fomos convocado eu e Lula (zagueiro) para uma preparação de 40 dias no Rio de Janeiro e em Santa Catarina. Depois, Lula foi cortado. Eu fui o único do Nordeste”, lembra, com o orgulho. Marlon ficou no banco de reservas no primeiro jogo, mas foi titular nas três partidas seguintes. O Brasil acabou eliminado nas semifinais durante a disputa da cobrança de pênaltis com a Colômbia.

Retorno e despedida do Santa
Após prestar serviços para a Seleção Brasileira, Marlon retornou ao Arruda. Ele não imaginava, porém o jogo contra o Goiás, no dia 10 de dezembro de 1986, foi o último com a camisa Tricolor. Pouco depois, ele foi vendido ao Sporting de Portugal e foi se aventurar no Velho Continente. “Eu não esperava sair. Os portugueses estavam aqui, mas não tinham chegado a um acordo. Eu não tinha empresário e decidi não ir. Depois, eles chegaram onde eu queria. Para sair, tinha que ir tranquilo”, afirma.

Além de receber dinheiro, ficou acordado que o Santa Cruz também realizaria uma excursão por Lisboa, com as passagens bancadas pelo próprio Sporting. Lá, o Tricolor do Arruda disputou oito partidas. O acerto da venda de Marlon aconteceu depois do interesse de outros grandes clube brasileiros. Fluminense e Palmeiras queriam os dribles do atacante.





Francisco Silva/DP/D.A Press
Marlon saiu do Santa e foi para Portugal
Vida na Europa e o golaço contra a Inter
A chegada do Endiabrado ao Sporting foi apenas o começo de uma longa passagem pela Europa. Ao todo, o ex-atleta coral ficou nove anos. Depois do time de Lisboa, Marlon vestiu a camisa do Boavista. Viveu momentos mágicos. Foi campeão da Taça de Portugal, em 1991/92, em cima do rival Porto.

No mesmo ano, ele disputou a Champions League e conseguiu marcar o que considera um dos gols mais bonitos da carreira. Contra a Inter de Milão de Zenga, Mathaus e Klisman, diante da torcida do Boavista, ele recebeu o cruzamento de Fernando Mendes e partiu para a consagração.

“Ele deu um balão. Eu fui de encontro a bola e bati de primeira. Foi um dos mais bonitos da minha carreira”, conta. O placar da partida terminou em 2 a 1 e, após conseguir empatar em 0 a 0 no estádio San Siro, a equipe portuguesa avançou de fase.

Por onde anda

Em 1997, Marlon pendurou as chuteiras e retornou para Olinda, onde tem residência fixa. Dois anos depois, contudo, ele retornou para o mundo do futebol. Virou empresário com boa abertura no mercado português. ”Bato meu futevôlei no sábado e minha pelada toda terça-feira. Não troco aqui por nada”, afirma.

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